Crise hídrica: entenda como as ações humanas interferem
Em 2021, o Brasil se viu diante de uma grave crise hídrica, os reservatórios das hidrelétricas permaneceram algum tempo em níveis críticos. O Ministério de Minas e Energia definiu o cenário como a pior crise hídrica vivida pelo país em 91 anos. O MapBiomas realizou um levantamento que indicou que o Brasil perdeu nada menos do que 15% da sua superfície de água nos últimos 30 anos.
Nos últimos anos, esse tema se tornou recorrente no hall de preocupações dos brasileiros, especialmente devido às ações humanas. Antes, era considerado normal um regime de chuvas distribuídas por todo o ano, atualmente, a realidade não é mais essa. No artigo a seguir iremos explicar de que maneira a interferência humana está contribuindo para o reforço desse problema.
Brasil: entendendo a sua crise hídrica
O ano de 2021 foi marcado pela escassez de chuvas que levou os reservatórios das principais hidrelétricas a níveis críticos. O Centro-Oeste e Sudeste brasileiros sentiram com mais rigor a estiagem. Os reservatórios responsáveis pelo abastecimento dessas regiões chegaram a ter apenas 23% da sua capacidade total de armazenamento.
Muitos brasileiros se lembram do racionamento de energia de 2001, motivado por uma grande crise hídrica. Os reservatórios, em 2021, estavam com níveis abaixo dos daquele período crítico. As ações do homem que impactam o meio ambiente corroboram para esse cenário atual.
Em alguns pontos, a chuva teve o seu volume reduzido, enquanto em outros passou a ser mais concentrada. Essa alteração do regime de chuvas se reflete na redução do volume de água nos rios.
Como as ações humanas contribuem para a crise hídrica?
As condições climáticas são decisivas para a ocorrência das chuvas. Logo, também são preponderantes para a sua ausência. Essa alteração do padrão pluviométrico é consequência particularmente das ações realizadas pelo homem (antrópicas). A emissão de gases do efeito estufa e o desmatamento se destacam na lista dessas ações. O desequilíbrio ambiental está levando à falta de disponibilidade de água.
Embora os índices pluviométricos sejam relevantes para a mensuração da redução da chuva, é essencial observar também a superfície de água do país. A falta dos cursos d’água vem gerando uma série de dificuldades para as comunidades que tinham a sua sobrevivência condicionada às margens dos rios.
A situação é tão extrema que, no Pantanal, houve lagoas que secaram, diversas áreas perderam a principal característica do bioma, que é a umidade. A região Centro-Oeste vem sofrendo com menor volume de chuvas em decorrência do desmatamento da Amazônia.
As hidrelétricas também têm seu papel nessa equação, uma vez que alteram o regime de vazão dos rios. Isso leva a alterações no regime dos rios. Há regiões que se tornam mais secas em decorrência desse processo.
Crise Hídrica: medidas adotadas
Objetivando contornar as dificuldades da crise hídrica, o governo adotou a medida de realização de leilões para contratar usinas que funcionam como “reserva” para gerar energia. Também está previsto o aumento da importação de energia do Uruguai e Argentina.
Existe a chance de uma eventual flexibilização dos limites de segurança das linhas de transmissão. Esse último procedimento visa aumentar os volumes de água transportados das regiões Norte e Nordeste para as regiões Centro-Oeste e Sudeste.
Está sendo praticado, ainda, o incentivo através de compensações financeiras para que cidadãos e empresas reduzam o seu consumo de energia elétrica. Um programa que incentiva a redução voluntária do consumo entrará em vigor, através dele serão concedidos descontos na fatura de energia. Cabe às repartições públicas diminuírem o consumo energético entre 10% e 20%.
Estuda-se, ainda, a possibilidade de acionar usinas termelétricas. Esse sistema de produção de energia, além de ser mais caro, é extremamente poluente. O acionamento dessas usinas agravaria ainda mais a crise climática.
Em junho de 2021, o presidente Jair Bolsonaro publicou uma medida que dava autorização para o acionamento “emergencial e temporário” dessas usinas. O governo quer evitar os apagões e a necessidade de um racionamento compulsório.
Irresponsabilidade
Vicente Andreu, o ex-presidente da Agência Nacional de Águas, declarou em 16 de agosto de 2021, que a crise hídrica era consequência de uma ação irresponsável do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Segundo o comentário de Andreu, era necessário ter acionado as termelétricas antes para diminuir o impacto causado pela redução de chuvas. Nessa linha de raciocínio, a crise seria também resultado da má gestão.
Qual é o impacto social da crise hídrica?
O aumento da tarifa de eletricidade e do valor dos produtos vendidos em supermercados com certeza pesa mais para o pequeno consumidor. O regime regular de chuvas é também essencial para o agronegócio, especialmente para os pequenos produtores. Além disso, o aumento da tarifa de energia também irá pressionar a inflação nos meses seguintes.
A situação financeira dos brasileiros será ainda mais prejudicada. É bem provável que a bandeira tarifária siga aumentando, tornando ainda mais difícil a sobrevivência dos menos favorecidos.
Como a sustentabilidade pode ajudar o país a sair da crise hídrica?
Soluções energéticas mais limpas e econômicas, como a energia solar, têm sido cada vez mais procuradas nos últimos tempos. O uso residencial dessa fonte de energia no Brasil está próximo de 73%. Essa grave crise hídrica pode contribuir para o aumento do uso dessas alternativas mais verdes e que oferecem potencial de ganhos mais significativos para o país.
A crise hídrica no Brasil deve ser encarada como uma situação de alerta global. É determinante que o desmatamento da Amazônia, assim como as emissões de gases do efeito estufa, seja reduzido. As áreas que foram desmatadas precisam ser novamente cobertas por vegetação. O reflorestamento leva à retirada do carbono da atmosfera. O investimento em energias verdes, como a solar e a eólica, é fundamental para o futuro.
A crise hídrica é uma realidade que pode ser contornada com foco na sustentabilidade!