O que é epigenética? Indo além dos genes
Entender o que é epigenética é fundamental para compreender os avanços na área de biologia. Trata-se de uma área dedicada ao estudo de mudanças no fenótipo que não possuem relação com alterações do DNA, ou seja, vai além dos genes. Continue lendo para saber mais.
O que é epigenética?
O termo epigenética foi utilizado pela primeira vez em 1942, por Waddington, com o objetivo se referir a estudos sobre interações causais entre mudanças nos genes e os seus produtos, que acarretavam mudanças no fenótipo no decorrer dos anos.
A palavra epigenética é uma combinação da preposição helênica do grego antigo “epi” (sobre ou acima de) com genética. Logo, epigenética é aquilo que está acima da genética, o que adiciona mais complexidade.
Atualmente, epigenética é uma área da biologia que se ocupa de estudar mudanças no fenótipo que não têm relação com alterações na sequência de DNA. Essas mudanças perpetuam-se em divisões celulares, mitóticas ou meióticas.
Entendendo a epigenética na prática
Você lembra que as “letras” químicas A, T, C e G são responsáveis pela receita de produção de moléculas, em especial de proteínas? Essas moléculas é que fazem as células realizarem suas funções. O ser humano é um ser vivo altamente complexo, de maneira que há diversas especializações possíveis em nossas células.
Para se ter uma ideia, o mesmo DNA que origina nossas células musculares é responsável pelo surgimento de nossos cabelos e até pelos nossos neurônios. Fica evidente a necessidade de um sistema que controle a ativação e o desligamento dos genes. É exatamente nesse ponto da explicação que entra a epigenética.
Os genes, de maneira geral, se encontram acoplados a regiões reguladoras. Esses pedaços de DNA não têm nenhuma receita para produzir nada. Porém, algumas moléculas se conectam a eles, dando início ao processo de ativação dos genes, mais ou menos como se alguém acionasse um interruptor.
Marcações moleculares epigenéticas
Você deve estar se perguntando como a célula identifica onde deve acionar o interruptor. Isso é feito com o auxílio das marcações moleculares epigenéticas. Destacam-se como as marcações mais conhecidas os grupos chamados metil ou metila (cuja fórmula química é CH3, uma combinação de um átomo de hidrogênio e três átomos de carbono).
Inúmeros CH3 são “colados” nas letras de DNA como se fossem um aviso para não usar. Esse processo é chamado de metilação. Com esse “adesivo”, o que acontece é que as moléculas que deveriam ativar (ler) aquele gene, chegarão e darão meia-volta. Contudo, se há a remoção da metila, o gene volta a ficar disponível para o processo de transcrição, gerando, assim, uma proteína.
É importante fazer o adendo de que o oposto também pode acontecer, isto é, a metilação pode incentivar que um determinado gene passe pela transcrição ao invés de impedir. Independentemente disso, a ideia central se mantém a mesma, ou seja, há a possibilidade de regular a maneira como o DNA é utilizado pela célula sem que sua sequência seja mudada no genoma.
Influências externas
Os processos epigenéticos são bastante dinâmicos, uma vez que são eles que possibilitam a produção de tipos diferentes de células. É interessante observar, também, o papel que influências externas podem ter nesses processos. Fatores como frio, calor, fome, estresse, entre outros, podem impactar nesses processos.
Imagine uma situação em que um indivíduo precisa se adaptar a uma determinada variação de temperatura. Nesse caso, é interessante que haja uma reorganização das células, ativando determinados genes. Os marcadores epigenéticos são os responsáveis por realizar esse serviço.
As duas versões do DNA e a epigenética
Todo ser humano possui duas cópias completas do seu DNA, uma proveniente do pai e outra da mãe. Em alguns casos, para que não haja conflito entre ambas, se mostra necessário que a metilação inative a cópia da mãe ou a do pai, dependendo do contexto. Caso isso não dê certo, é possível que ocorram problemas de desenvolvimento fetal.
Marcações epigenéticas passadas de geração em geração
Evidências experimentais sugerem que as marcações epigenéticas podem ser transmitidas de geração em geração, tanto em seres humanos quanto em animais. Seria mais ou menos como dizer que a sua alimentação pode afetar o metabolismo dos seus netos.
Há um estudo bastante famoso nesse sentido, que observou como o fato de avós holandeses terem passado fome durante a Segunda Guerra Mundial afetou o metabolismo de seus netos, levando-os à obesidade. Também há estudos que demonstram que pessoas que passaram por um trauma podem ter descendentes naturalmente estressados pelas mesmas questões.
Isso nos permite concluir que nossos antecedentes nos deixaram muito mais do que o seu DNA como herança. Pode ser que algumas de suas características sejam resultantes de marcações epigenéticas. Essa é uma área de biologia que tende a ganhar cada vez mais relevância.
A epigenética é uma área de estudo que vai muito além dos genes! Para conferir mais conteúdos e dicas para o Enem e o vestibular, navegue pelos posts do blog do Hexag Medicina!