Cultura e identidade negra na escola: Veja a importância
O Brasil é um país multicultural, esse é um fato bastante claro. Contudo, a educação aplicada nas escolas brasileiras não reflete essa diversidade cultural. Por muitos anos, a cultura e identidade negra foram colocadas em segundo plano com um viés de preconceito. É bastante nítido que essa cultura não possui o mesmo espaço que as demais no âmbito educacional.
Ainda existem diversas barreiras para a difusão da cultura e identidade negra na escola, como a falta de conhecimento da história do nosso país (especialmente pelo apagamento histórico dessa cultura) e pelo preconceito estrutural.
No artigo a seguir iremos explicar porque é tão importante que a cultura e identidade negra tenham espaço na educação brasileira.
Educação e formação de identidades sociais
Há forte relação entre a educação e a formação de identidades sociais. A educação formal e informal contribuem para o conhecimento e compreensão dos signos culturalmente representativos e a formação de uma identidade.
A escola é um dos principais espaços em que as crianças e adolescentes aprendem sobre cultura. Inclusive, esse é um espaço em que é possível valorizar ou ampliar o preconceito a respeito de uma ou outra cultura.
A presença da cultura e identidade negra no espaço da educação é essencial para criar a sensação de representação e pertencimento àquele espaço. A diversidade cultural deve fazer parte da rotina da escola, criando, assim, perspectivas de que todos os cidadãos se entendam como parte do todo.
Os professores devem assumir o papel de construtores e empoderadores de questões étnicas, levando a um verdadeiro resgate histórico.
O papel da identidade na escola
A população brasileira não conhece a sua história completamente, pois os livros didáticos não abordam totalmente temas de grande relevância. Ainda hoje há exclusão da população negra de episódios dos quais fizeram parte. Por séculos, essa etnia foi subjugada, escravizada e desqualificada, não se encaixando nos padrões sociais.
No ambiente escolar é facilmente perceptível que há falta de reconhecimento, especialmente pela etnia negra, dos seus signos, ancestrais e referências. A história negra é contada sob a perspectiva do colonizador, não se aprofundando em sua essência.
As lutas do movimento negro no decorrer do tempo contribuíram para a valorização e reconhecimento da participação da cultura africana na formação da sociedade brasileira. Isso permite que os alunos tenham maior aceitação, aprendizado sobre a cultura e reconhecimento de sua contribuição.
Tabu
A presença da cultura e identidade negra na escola sempre foi tido como um tabu que precisava ser quebrado para que uma nova base fosse construída. Por muito tempo foi algo escondido da sociedade, particularmente nas escolas. Nos últimos anos, temos percebido uma crescente valorização e percepção da cultura negra em espaços educacionais formais.
De acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), houve aumento expressivo dentre os autodeclarados negros, chegando a 54,9%. A parcela daqueles que se declaram pardos foi de 45,3% para 46,7%.
Já entre aqueles que se declaram pretos, a porcentagem foi de 7,4% para 8,2%. Esse aumento diz respeito ao reconhecimento da população negra no tocante à sua própria cor.
Referências históricas
Boa parte das referências históricas de pessoas negras no Brasil está relacionada com a escravidão. A narrativa parte, quase sempre, do pressuposto do povo raptado e obrigado a trabalhar sob condições sub-humanas.
Porém, não se atribui aos negros a construção da nação e sim aos colonizadores europeus. Os holofotes tendem a ser dados para a cultura e etnia europeia.
Racismo nas escolas
O racismo na escola já é reconhecido como um fato por boa parte da sociedade. Uma das principais bandeiras do movimento negro é justamente a luta contra o racismo institucional. A lei 10.639, de 09 de janeiro de 2003, tornou obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira.
Porém, há diversas escolas que não conseguiram realizar a implementação desse conteúdo. Tal situação pode ser entendida como resultado do racismo estrutural que ainda persiste na estrutura da escola. Também pode ser consequência da falta de suporte e formação de professores para abordar tais temáticas em sala de aula.
É crucial que se olhe com atenção para a realidade dos adolescentes que vivem diariamente dilemas a respeito da questão racial. Essa é uma questão-chave porque muitos desses adolescentes não se identificam como negros pelo fato de ser uma cultura estereotipada e inferiorizada em comparação as outras.
A sociedade aprendeu a ideologia racista e isso leva muitas pessoas a não se autodeclararem como negras. Adolescentes negros ainda sofrem com o racismo porque existe falta de compreensão e entendimento entre esses jovens das diversidades étnicas e culturais. Esse é um grupo social que precisa ser colocado a par da diversidade, de maneira a entendê-la e traduzi-la para a sua realidade.
A forma como a história das pessoas negras é tratada no ambiente escolar pode contribuir para acentuar e valorizar as diferenças ou o contrário. É essencial que a cultura e a identidade negra sejam valorizadas no âmbito escolar preparando, assim, os jovens para uma sociedade multicultural mais justa.
A cultura e identidade negra precisam ser integradas à realidade escolar para a construção de uma sociedade mais justa!