Realismo Fantástico na América Latina: o que é?
O conceito de realismo fantástico aplicado a diferentes tipos de produções artísticas caracteriza-se pela mescla de elementos da realidade, da fantasia e do sonho. A narrativa criada, nessas produções, combina fatos históricos, lendas, mitos e folclore com harmonia. Continue lendo para saber mais.
O que é realismo fantástico?
Também chamado de realismo mágico, o realismo fantástico é uma vertente literária que utiliza metáforas e símbolos para criar enredos mirabolantes e mágicos. O texto literário desse tipo de produção costuma ser alegórico, isto é, permite que haja aspectos absurdos na realidade.
Temas como a violência e a repressão ditatorial são apresentados de forma velada nessas produções. Essa possibilidade tornou o realismo fantástico tão forte na América Latina. Precisamos citar que quase todos os países latino-americanos passaram por ditaduras militares.
O uso de metáforas e fantasia permitia aos criadores driblar a censura, pois as denúncias feitas não eram detectadas pelos censores. Além disso, os absurdos desse tipo de regime governamental se tornavam mais evidentes quando narrados sob essa ótica descomprometida com a racionalidade.
Realismo fantástico x realismo mágico x realismo maravilhoso
Essas três categorias costumam ser mencionadas como sinônimos por muitos, contudo, não são equivalentes. Inclusive, existem muitos debates e falta consenso dos críticos sobre o uso desses termos. Confira abaixo uma breve explicação sobre cada termo:
Realismo maravilhoso
Está relacionado às produções literárias latino-americanas. O termo “maravilhoso” está relacionado às cartas e testemunhos dos colonizadores. Nessa categoria há uma postura crítica dos autores no sentido de afirmar a cultura latino-americana.
O realismo está ligado às invenções europeias de modernização e progresso. Essas inovações são apresentadas como elemento que alterou superficialmente a realidade colonial. Os povos latino-americanos são retratados com suas contradições e sincretismos que permaneceram mesmo com a intervenção colonizadora.
Realismo fantástico ou realismo mágico
Esses termos não necessariamente referem-se a um contexto ou movimento em especial. Há autores de variadas nacionalidades compondo o hall dos escritores de realismo fantástico como, por exemplo, Edgar Allan Poe e E.T.A Hoffmann.
Principais características do realismo fantástico
- Combinação de elementos da realidade cotidiana com elementos de universos oníricos, míticos e folclóricos.
- Naturalização da coexistência dos elementos da realidade com os elementos extraordinários e fantásticos.
- Eventuais rompimentos com a linearidade temporal e o princípio de causalidade.
- Problematizações da racionalidade.
Principais autores do realismo fantástico latino-americano
- Jorge Luis Borges (Argentina, 1889-1986);
- Julio Cortázar (Argentina, 1914-1984);
- Gabriel García Márquez (Colômbia, 1927-2014);
- Mario Vargas Llosa (Peru, 1936);
- Isabel Allende (1942, nasceu no Peru, mas se radicou no Chile).
Principais obras do realismo fantástico latino-americano
Cem anos de solidão, de Gabriel García Márquez
Originalmente publicada em 1967, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1982. A história se passa em uma aldeia chamada Macondo, formada por vinte casas de barro e taquara. O enredo acompanha sete gerações da família Buendía e tem como pano de fundo a mescla de eventos históricos da Colômbia e acontecimentos surreais.
Dentre os elementos alegoricamente surreais destacam-se ressurreições, insônias coletivas, traços psicológicos que são hereditários, entre outros. Na obra, o autor apresenta a história da América Latina em conjunto com histórias que ouvia quando criança.
Ficções, de Jorge Luis Borges
Essa obra que reúne contos foi publicada pela primeira vez, em 1944, rendendo prestígio literário para o escritor argentino. Nesse livro, as narrativas labirínticas adquirem contornos filosóficos e bem humorados. O imaginário é aliado ao real, os personagens protagonizam situações cotidianas sem que haja separação do irreal.
O livro dos seres imaginários
Essa obra foi publicada originalmente, em 1957, consiste em um compilado de mais de cem monstros de obras de outros escritores como Homero e Shakespeare. Possui ainda seres mágicos presentes no imaginário coletivo humano como elfos, fadas e duendes.
Escritores do realismo fantástico no Brasil
Murilo Rubião
O escritor Murilo Rubião foi o pioneiro do realismo fantástico no Brasil. Nascido em 1° de junho de 1916, na cidade de Silvestre Ferraz (atual Carmo de Minas, Minas Gerais), o escritor produziu uma obra enxuta. Ao longo da carreira escreveu apenas 33 contos, esses textos foram escritos e retrabalhados de forma exaustiva.
Essa vertente literária foi introduzida na literatura brasileira, por Rubião, de uma forma que combina situações antagônicas. Suas histórias contam com dragões, coelhos falantes assim como epígrafes bíblicas. Os contos de Rubião, geralmente, têm como cenário, reinos distantes e seres bizarros.
José J. Veiga
O escritor José J. Veiga nasceu, no dia 2 de fevereiro de 1915, em Corumbá de Goiás (GO). Sua obra contempla contos, romances e novelas cujo texto se aproxima do maravilhoso tanto no alegórico quanto no absurdo. As suas produções deixam no passado as fronteiras entre as categorizações.
As narrativas do escritor se passam em cenários interioranos e rurais do país. O escritor se apoia em fabulações típicas da narrativa oral criando universos fantásticos e cidades remotas, esquecidas e perdidas. Esses lugares são invadidos, repentinamente por alienígenas, bois e cães.
Dias Gomes
Dias Gomes nasceu em Salvador, em 1922 e faleceu em São Paulo, em 1999. O escritor é o autor de Saramandaia, uma das obras de maior expressão do gênero, que foi adaptada para a televisão, em 1976.
A trama se passa na cidade fictícia de Bole-Bole em que há intensas disputas políticas entre coronéis autoritários e aqueles que sonham com a liberdade. Trata-se de uma alegoria para falar sobre a Ditadura Militar pela qual o Brasil passava.
Dentre os aspectos fantásticos estão a marca de nascença de João Gibão (asas) e a personagem gulosa Dona Redonda que explode de tanto comer. Há ainda o professor Aristóbulo que vira lobisomem e o coronel Zico Rosado que tem formigas saindo do nariz.
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