Carta de alforria: saiba seu conceito e o que era necessário para conseguir uma
A carta de alforria era em um documento que garantia a liberdade de uma pessoa escravizada. Devia conter a assinatura do proprietário do escravizado para ser válida. O indivíduo que recebia esse documento tornava-se alforriado, isto é, livre perante a ordem jurídica do período.
O que é carta de alforria?
Em linhas gerais, a carta de alforria era documento assinado pelo proprietário de um escravizado no qual o último recebia o direito à sua liberdade. Essa palavra é originária do termo árabe “al horria” que significa “liberdade”.
Acredita-se, devido a fontes históricas, que o conceito de alforria já existia para os escravizados desde a Antiguidade.
Grécia Antiga
Um grupo de escravizados atenienses foi alforriado pela sua contribuição para a vitória na Batalha de Arginusas, na Guerra do Peloponeso.
Roma Antiga
Na Roma Antiga, era realizado um ritual para a libertação do escravizado. O indivíduo a ser liberado tinha a sua cabeça raspada e se ajoelhava diante do seu proprietário. Um preto então tocava o ombro do escravizado com a vindicta (um tipo de varinha) e assim ele estava livre.
Para finalizar o processo, era colocado na cabeça do escravizado um chapéu píleo. Esse item era feito de um tipo de feltro e simbolizava a liberdade porque os escravizados eram proibidos de usá-lo.
Carta de alforria: tipos e o que era necessário para conseguir uma
Basicamente, as cartas de alforria podem ser divididas em dois grupos: gratuitas e pagas.
Cartas de alforria gratuitas
- Eram concedidas pela vontade do proprietário do escravizado.
- Geralmente, se tratava de uma contrapartida do senhor pelos bons serviços prestados pelo escravizado.
- Poderia ser resultado também de uma afeição construída entre as partes.
- Uma carta de alforria gratuita podia ou não ter condições impostas ao alforriado.
- O mais comum é que essas cartas fossem testamentais, ou seja, concedidas como último desejo do proprietário.
- Boa parte daqueles que concediam alforria em testamento não tinham herdeiros.
- Havia também as alforrias de pia batismal, concedidas durante o batismo da criança.
Cartas de alforria pagas
- Eram concedidas mediante algum pagamento, normalmente eram os próprios escravizados que custeavam*.
- Normalmente, essa carta era assinada pelo proprietário mediante a presença de uma autoridade e do próprio escravizado.
*Havia o que se chamava de “escravos de ganho”, esses indivíduos passavam o dia vendendo produtos ou prestando serviços nas ruas. Diária ou semanalmente, esses cativos pagavam um valor para o senhor podendo ficar com o que sobrava. Assim, eles conseguiam juntar dinheiro para comprar sua alforria.
Guerra do Paraguai
Outro tipo de alforria paga que existiu no Brasil ocorreu durante a Guerra do Paraguai (1864-1870). Nesse período, visando aumentar o contingente de soldados brasileiros, Dom Pedro II assinou o decreto 3275, em 1866.
O texto do decreto determinava a concessão da alforria para escravizados que fossem fisicamente adequados para o combate. Essas cartas de alforria eram concedidas pelo Estado, porém, estavam associadas à participação dos libertos na guerra.
Carta de alforria: direitos conseguidos pelos libertos
Se não houvesse condições impostas para o escravizado, a carta concedia a liberdade ao indivíduo. No caso de escravas mulheres, a carta concedia a sua liberdade e a dos seus filhos nascidos após a alforria.
Contudo, a carta de alforria era um documento que poderia ser revogado a qualquer momento pelo antigo senhor. Como citamos, algumas dessas cartas impunham condições, normalmente elas tornavam o alforriado um tipo de servo do ex-proprietário. Os libertos podiam ficar devendo favores, serviços e taxas.
Uma das condições mais comuns era a de que o escravizado trabalhasse para o senhor até a morte do mesmo. Também poderiam ser feitas exigências nas cartas de alforria testamentais como, por exemplo, o pagamento de dívidas do falecido ou a celebração de missas para ele.
Carta de alforria no Brasil
Os registros mais antigos de cartas de alforria, no Brasil, remontam ao século XVIII. Porém, existem algumas fontes que indicam a existência desse tipo de documento desde o início do processo de escravidão no país.
As cartas de alforria concedidas no Brasil geralmente continham as seguintes informações:
- Nome do indivíduo alforriado;
- Idade aproximada;
- Origem;
- Cor;
- Sexo;
- Nome e assinatura do proprietário ou nome e assinatura de alguém indicado por ele no caso de ser analfabeto.
Em muitos casos o documento apresentava o motivo da alforria. Caso fosse uma alforria mediante pagamento era registrado o valor. As pessoas que recebiam a alforria eram chamadas de “forras” no Brasil.
Perfil das alforrias
De acordo com pesquisas históricas, entre 2% e 6% dos escravizados eram alforriados durante a sua vida. Essas investigações também apontam que boa parte dos alforriados eram mulheres. A maioria dos proprietários que concediam alforrias também era composta por mulheres.
Para muitos historiadores, as cartas de alforria eram usadas como um tipo de válvula de escape que impulsionava o regime escravocrata. Indivíduos em situação de escravidão passavam a ter esperança de ser livres e assim se sentiam mais motivados para trabalhar.
Era comum em propriedades agrícolas e de mineração, que fosse feita a promessa de alforria para aqueles que trabalhassem mais durante um determinado período. Essa estratégia ajudava a potencializar o trabalho dos escravizados e a obediência às regras.
Em 13 de maio de 1888, foi assinada a Lei Áurea que libertou todos os escravizados no Brasil.
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