Saiba o que foi a Revolta da Vacina (1904) no Rio de Janeiro e suas consequências sociais e políticas
Em 1904, ocorreu a Revolta da Vacina, no Rio de Janeiro, devido a insatisfação popular com a campanha de vacinação obrigatória. Entre os motivos que levaram à revolta estão a falta de informação e a agitação gerada pelas reformas realizadas por Rodrigues Alves e Pereira Passos.
O contexto da Revolta da Vacina
O Rio de Janeiro era a capital e maior cidade brasileira no começo do século XX. Nesse período, a cidade havia acabado de vivenciar momentos históricos relevantes como a Proclamação da República e a Revolta da Armada. Em 1904, ocorreu mais um evento significativo, a Revolta da Vacina.
A cidade tinha uma população de cerca de 800 mil habitantes e sofria com inúmeras questões de saúde. Diferentes epidemias se espalharam pela cidade devido a alguns fatores:
- Crescimento desordenado da cidade;
- Grande circulação de pessoas;
- Falta de estrutura urbana;
- Saneamento precário.
As epidemias
Havia milhares de mortes todos os anos em decorrência de doenças como:
- Tuberculose;
- Varíola;
- Cólera;
- Malária;
- Febre Amarela entre outras.
Os recursos médicos daquele período não conseguiam solucionar o problema das doenças que afetavam a capital do país. Parte dos médicos acreditava que o grande número de epidemias no Rio de Janeiro era resultado dos miasmas (odores pútridos espalhados pela cidade).
Esses médicos afirmaram que os pântanos eram emissores dos miasmas e que os morros impediam a dissipação dos odores. Muitos desses médicos também diziam que a aglomeração de pessoas pobres na região central contribuía para o problema.
Havia a crença de que os mais pobres tinham “maus hábitos”, o que favorecia as epidemias. Dessa forma muitas áreas pantanosas da cidade foram aterradas e a ideia de expulsar os pobres do centro do Rio de Janeiro ganhou força.
A reforma do Rio de Janeiro
Em 1902, Rodrigues Alves foi eleito presidente e tinha como uma de suas propostas reformar a cidade do Rio de Janeiro. A inspiração era o projeto de reforma aplicado em Paris. Francisco Pereira Passos foi nomeado prefeito da cidade por Alves.
O principal foco da reforma de Alves foi a região central da cidade, onde havia ruas estreitas e grande circulação de pessoas. No centro havia muitos cortiços, construções residenciais em que milhares de pessoas pobres viviam. Parte desses moradores eram ex-escravos e seus descendentes.
Diversos prédios foram demolidos para que avenidas fossem construídas. O prédio do Theatro Municipal foi construído nesse período. Muitos comerciantes sofreram devido às exigências feitas pela prefeitura. A polícia passou a reprimir manifestações culturais como o Carnaval.
Muitos dos moradores mais pobres do centro se viram obrigados a se mudar para locais mais precários como os morros da cidade. Em paralelo à reforma arquitetônica, a cidade passou por uma grande operação sanitarista. O comando dessa operação era da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP), chefiada pelo sanitarista Oswaldo Cruz.
A campanha sanitarista
O sanitarista Oswaldo Cruz foi nomeado para lidar com as questões sanitárias que assolavam o Rio de Janeiro. Nesse período, três doenças foram escolhidas como alvos principais:
- Febre amarela;
- Peste bubônica;
- Varíola.
Febre Amarela
Para o combate da febre amarela, a DGSP formou brigadas de mata-mosquitos. Essas brigadas iam de casa em casa atrás de focos do mosquito responsável por transmitir a doença. Os mata-mosquitos entravam à força nas casas para caçar os focos e faziam a higienização.
Esses profissionais podiam exigir que uma construção fosse reformada ou interditada. Eles ainda levavam os doentes para hospitais do bairro do Caju e de Niterói. Os doentes que contraíam doenças mais graves como a varíola, por exemplo, eram conduzidos a outros hospitais.
Peste Bubônica
Para reduzir os números de peste bubônica na capital do país, teve início uma campanha de extermínio de ratos. Quem capturasse e entregasse ratos para a DGSP recebia uma compensação financeira. Muitos moradores deram início a criadouros de ratos para ter uma fonte de renda extra.
Varíola
Para combater a varíola, Oswaldo Cruz deu início a uma campanha de vacinação obrigatória. A população que já estava insatisfeita se rebelou e foi para às ruas.
A Revolta da Vacina
A lei que tornava a vacinação contra a varíola obrigatória foi proposta em junho de 1904. A população não gostou da proposta pela obrigatoriedade e também pela falta de informação sobre a vacina. Instituições se formaram para lutar contra a obrigatoriedade da vacinação.
A insatisfação continuou até que, em 09 de novembro, a imprensa divulgou que haveria o debate de uma nova lei. A lei estabeleceria restrições para aqueles que não se vacinassem. Os não-vacinados não poderiam se casar, por exemplo. Isso foi o que faltava para que a população fosse às ruas protestar contra a vacinação.
Os protestos da Revolta da Vacina
Os protestos ficaram concentrados no centro e na região portuária. Protestos intensos aconteceram entre os dias 10 e 16 em vários pontos. Lampiões de iluminação pública, bondes e até o chão das ruas foram destruídos. Tiros foram trocados entre a polícia e os manifestantes. Paralelepípedos se tornaram armas lançadas contra as forças policiais.
Como terminou a Revolta da Vacina?
O Exército foi mobilizado pelo presidente Rodrigues Alves para conter a revolta. A situação apenas ficou sob controle no dia 16, após o decreto do estado de sítio. Durante os protestos, militares, liderados pelo marechal Hermes da Fonseca, tentaram realizar um golpe contra o presidente.
Rodrigues Alves cogitou fugir, mas continuou na capital e os golpistas foram contidos. O conflito foi um evento realmente significativo e deixou como saldo:
- 31 mortos;
- 110 feridos;
- 461 degredados para o Acre.
A realização da campanha de vacinação conseguiu erradicar a varíola do Rio de Janeiro.
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