Dom Casmurro: entenda a obra de Machado de Assis - Hexag Medicina
28/08/2023 Literatura

Dom Casmurro: entenda a obra de Machado de Assis

Escrito por Hexag Educacional @hexagmedicina
Dom Casmurro: entenda a obra de Machado de Assis

Em 1889, a obra “Dom Casmurro”, de Machado de Assis, foi publicada pela primeira vez. O livro mais famoso do autor nos apresenta um olhar crítico da sociedade brasileira da época. O enredo é movimentado pelo ciúme que gera dúvidas em relação a uma das personagens femininas mais relevantes da nossa literatura: Capitu.

Dom Casmurro: um livro com muitas leituras possíveis

A pergunta central da obra “Dom Casmurro” diz respeito a se Capitu traiu ou não o seu marido Bento Santiago, o Bentinho. No entanto, esse livro permite inúmeras leituras e com o passar do tempo a forma como ele é recebido mudou. Quando a obra foi lançada, em 1889, era vista como um relato de adultério do ponto de vista do marido traído.

Contudo, a partir da década de 1960, com o aumento do debate a respeito dos direitos das mulheres, a obra passou a ser interpretada de outra maneira. Bentinho, o narrador, poderia ser um marido ciumento que apresenta ao leitor a sua visão deturpada dos fatos. Afinal, os acontecimentos são apresentados por ele.

Os personagens

A história nos apresenta um homem de posses apaixonado por uma moça pobre e esperta. Os dois se casam após superarem algumas dificuldades. No fim de sua vida, o homem escreve o relato de “Dom Casmurro” contando como acredita ter sido traído pela esposa e pelo melhor amigo. 

Capitu

Durante boa parte da narrativa, Capitu é quem dá andamento aos acontecimentos. É a moça quem idealiza o plano que livra Bentinho do seminário. Embora sem posses, ela tem atitude, desenvoltura e independência. Uma personagem feminina bem distante do que se tinha de modelo na sociedade patriarcal do século XIX.

Basicamente, Capitu representa dois grupos marginalizados nesse período: os pobres e as mulheres. Inclusive o seu casamento com Bentinho causa “perturbação” a família rica. Dessa forma a atribuição do adultério extrapola a relação conjugal e se torna uma espécie de condenação de classe.

Ponto de vista

Bentinho, o Dom Casmurro, é quem narra a história para os leitores. Então, ao ler a obra temos apenas o ponto de vista dele, é como se enxergássemos com seus olhos. Os fatos podem ser apresentados de forma manipulada. 

Em um trecho, o autor/narrador diz que não tem boa memória. Mais um fator que pode tornar sua apresentação dos fatos duvidosa. Como ter certeza de que os acontecimentos foram como ele se lembra e não resultam de sua interpretação da realidade?

O problema das classes

De certa forma, o tema central da obra não é adultério e sim o problema das classes. Também é apresentada a questão da mulher através da figura de Capitu, uma moça humilde que não se deixa comandar. Ela é o agente que perturba a família abastada ao se casar com o homem rico. 

As paródias presentes na obra

Machado de Assis usa a paródia como forma de manifestar o seu humor e ironia. Uma paródia consiste numa imitação cômica de outro texto literário, de uma música, filosofia entre outras plataformas já consagradas. Na obra “Dom Casmurro” podemos observar três paródias.

Paródia de “Ilíada” de Homero

No capítulo 125, “Uma comparação”, Bentinho é obrigado a fazer um discurso em honra de Escobar, seu melhor amigo e suposto amante de Capitu. Algo semelhante ao que acontece em “Ilíada” quando o rio Príamo precisa beijar a mão de Aquiles, o assassino de seu filho Heitor. 

Paródia de “Otelo” de Shakespeare

Ao longo do texto a vida do protagonista é narrada com o mesmo tom trágico de uma ópera. Por aproximação de enredo, “Otelo” é a peça teatral mais parecida. Nessa obra, o protagonista também é atormentado pelo ciúme.

Paródia de mito de Abraão e Isaac

Deus, no Velho Testamento, solicita a Abraão o sacrifício de seu filho Isaac. Quando o derradeiro momento chega, o Anjo do Senhor surge e diz para o homem que a vida de seu filho será poupada. No lugar de Isaac, um cordeiro é sacrificado. 

Na obra de Machado de Assis, a mãe de Bentinho prometeu que seu filho seria padre. Para escapar dessa obrigação, o protagonista segue as sugestões de Capitu e sugere a sua mãe que mande outro garoto em seu lugar.

Elementos importantes de Dom Casmurro

O narrador

Quem conta a história ao leitor é o narrador Bento Santiago já idoso e com a alcunha de “Dom Casmurro”. Dessa forma o foco narrativo está em primeira pessoa e se baseia nas lembranças do personagem. Os relatos começam na sua infância, quando ainda era chamado de Bentinho.

Esse narrador, contudo, é problemático, pois não é confiável. Os fatos relatados podem ter ou não acontecido como ele nos apresenta. Além disso, ele é um homem que se encontra emocionalmente arrasado e instável.

O tempo da narração

Nessa narrativa o tempo é psicológico e não cronológico. Tal recurso é chamado de impressionismo uma vez que o narrador se concentra nas suas experiências. Esse recurso seria usado também pelo escritor francês Marcel Proust em sua obra “Em busca do tempo perdido”.

As lembranças só podem ser acessadas no presente e o próprio narrador comenta ter problemas de memória. Logo, temos como uma questão essencial a possibilidade de falha da memória. 

Os fatos que Bento Santiago nos apresenta passam pelo seu filtro do presente. É importante que o leitor questione até que ponto Capitu é mesmo a melhor volúvel e sensual descrita pelo narrador. A personagem pode ter sido apresentada de forma desvirtuada pelo sentimento de ciúmes do autor.

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