João Cabral de Melo Neto foi consagrado imortal da Academia Brasileira de Letras e o primeiro brasileiro vencedor do Prêmio Camões. Conhecido pela alcunha de poeta-engenheiro desenvolveu versos marcados pela lapidação, objetividade e cálculo. Além de escritor também foi diplomata, continue lendo e saiba mais.

Biografia de João Cabral de Melo Neto

O poeta João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 6 de janeiro de 1920. Contudo, a maior parte da sua infância foi vivida nos engenhos da família, na zona rural de São Lourenço e Moreno. Aos dez anos de idade, retornou à capital pernambucana e, em 1938, se mudou novamente com a família para o Rio de Janeiro.

No entanto, apenas em 1942, o escritor se estabeleceu definitivamente na então capital federal. Seu primeiro livro, intitulado “Pedra do Sono” foi publicado nesse mesmo ano. A crítica recebeu bem o trabalho poético, mas Carlos Drummond de Andrade censurou o hermetismo das palavras, foi considerado pouco acessível ao grande público.

Diplomacia

Paralelamente ao trabalho como escritor, João Cabral de Melo Neto atuou como funcionário do Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), até 1945. A partir desse ano deu início a sua carreira na diplomacia. Foi membro do Itamaraty e morou em vários países, mas sem nunca deixar seu trabalho de escritor.

Muitas das obras premiadas do escritor foram produzidas no exterior. Durante o governo de Jânio Quadros e João Goulart, João Cabral assumiu o cargo de Ministro da Agricultura. Após o golpe militar de 1964, voltou às suas atividades diplomáticas. O autor voltou a morar no Brasil somente em 1987. 

Pesquisa histórico-documental

O escritor desenvolveu ao longo da carreira um extenso trabalho literário. Mas, além disso, também realizou pesquisa histórico-documental sobre as navegações espanholas e portuguesas que levaram os europeus às Américas. 

Esse trabalho é intitulado como “O Arquivo das Índias e o Brasil: documentos para a história do Brasil existentes no Arquivo das Índias de Sevilha”. A edição desse material foi feita pelo Ministério das Relações Exteriores. É um documento com grande valor para os historiadores latino-americanos. 

Últimos anos

Em 1990, João Cabral de Melo Neto se aposentou como embaixador. Desenvolveu cegueira progressiva, o que foi aos poucos o impedindo de ler. Cego e deprimido, o escritor faleceu em 9 de outubro de 1999, em seu apartamento, no Rio de Janeiro. 

Academia Brasileira de Letras

Em 15 de agosto de 1968, o escritor foi eleito imortal da Academia Brasileira de Letras. Ocupou a cadeira de número 37 que havia sido assumida anteriormente pelo jornalista e figura pública Assis Chateaubriand. O poeta assumiu o posto em 9 de maio de 1969 e ao discursar homenageou seu antecessor. 

Características das obras de João Cabral de Melo Neto

A obra de João Cabral de Melo Neto se distancia consideravelmente da literatura produzida por seus contemporâneos. Com poucos títulos em prosa, tornou-se reconhecido por sua produção poética. Confira abaixo algumas das principais características das suas obras:

• Abandono dos padrões convencionais do lirismo;
• Desenvolvimento de um estilo próprio;
• Uso de linguagem objetiva e rigorosa; 
• Inicialmente teve influências surrealistas que se mesclaram a sua ordenação própria e racional;
• Rejeição a sentimentalidade, irracionalidade e verso subjetivo (características marcantes de boa parte dos autores da Geração de 45);
• Rigor formal único;
• Evocação imagética;
• Postura de reflexão crítica;
• Poesia metalinguística;
• Estado de tensão permanente. 

Temáticas sociais

A partir da publicação da obra “O cão sem plumas”, de 1950, a obra do escritor passou a apresentar temáticas sociais. Com um viés objetivo e reflexivo, o autor aborda temas como exclusão, violência e miséria. A sua obra indaga a condição humana e o fator desumanizador gerado pelo dinheiro.

Seus versos exploram amplamente a figura da pedra como uma forma de evocar a dureza da realidade crua. Essa realidade é vista pelos olhos que prestam atenção e são analíticos. 

Principais obras de João Cabral de Melo Neto

• Pedra do Sono (1942);
• O Engenheiro (1945);
• Psicologia da composição (1947);
• O Cão sem Plumas (1950);
• O Rio (1954);
• Morte e Vida Severina (1955);
• Duas Águas (1956);
• Poesia e composição (1956) (prosa);
• Da função moderna da poesia (1957) (prosa);
• A Educação pela Pedra (1966);
• Auto do Frade (1984);
• Primeiros poemas (1990);
• A Educação pela Pedra e Depois (1997).

Morte e Vida Severina

A obra mais conhecida do escritor, Morte e Vida Severina, Auto de Natal Pernambucano, foi publicada pela primeira vez em 1955. Esse livro foi adaptado para diferentes mídias como o cinema, teatro, música e até história em quadrinhos. Essa versatilidade de formatos contribuiu para a obra ser divulgada ao grande público. 

Nessa obra, João Cabral de Melo Neto mudou seu estilo, a linguagem se tornou menos hermética, ou seja, ficou mais fácil de ser compreendida. Contudo, isso não significou menos lapidação. 

Poema dramático 

Morte e Vida Severina é um longo poema dramático que nos apresenta a vida de um retirante do Agreste nordestino chamado Severino. Em busca de uma vida melhor, o personagem parte em direção ao litoral. 

Em cada parada ele se depara com a morte na forma de defuntos, coveiros e funerais. Seu caminho também é permeado pelo desespero, a fome, a seca, a falta de solução e de saída. O protagonista é uma metáfora dos marginalizados e a sua jornada é uma alegoria da vida do retirante que tenta sobreviver. 

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