O que é um soneto?
O soneto é um tipo de poema que possui regras fixas no que diz respeito ao número de versos. Trata-se de um tipo de poema presente em vários tipos de literatura, inclusive na portuguesa e na brasileira. Continue lendo para entender melhor.
Afinal, o que é soneto?
Há poemas que possuem regras fixas no tocante ao número de versos, organização das estrofes e combinação de rimas, um exemplo é o soneto. Em linhas gerais, trata-se de uma estrutura literária que possui quatorze versos, sendo dois quartetos (conjuntos de quatro versos) e dois tercetos (conjuntos de três versos).
Acredita-se que essa forma foi criada pelo poeta italiano Francesco Petrarca (1304-1374). Uma curiosidade é que o termo soneto vem do italiano “soneto”, que significa pequeno som. É uma forma de se referir à sonoridade produzida pelos versos. Esse tipo de poema faz parte de várias literaturas.
Existem dois tipos de classificação de sonetos: soneto italiano e soneto inglês.
Soneto italiano
Esse tipo de soneto possui quatorze versos que apresentam, geralmente, dez sílabas poéticas. Isso significa que apresenta versos decassílabos ou alexandrinos. Os versos se encontram organizados em duas quadras* e dois tercetos**.
*Quadras
São estrofes que possuem quatro versos que normalmente apresentam rimas alternadas (abab) ou opostas (abba).
**Tercetos
Caracteriza-se por ser uma estrofe com três versos. Pode ter a combinação de rimas feita de acordo com o modelo de Dante em “Divina Comédia”, decassílabos em rima encadeada aba-bdc-cdc em que o último verso terceto rima com um verso final.
Outra possibilidade é fazer combinações com rimas diferentes (aac-ccb, abc-abc). Podem, ainda, não ter rimas. Nos casos em que o soneto tem tercetos que combinam apenas duas rimas é importante que sigam o modelo cdc-dcd.
Um bom exemplo de soneto italiano é esse soneto de Manuel Bandeira:
Soneto Italiano
Frescura das sereias e do orvalho,
Dos brancos pés dos pequeninos,
Voz das manhãs cantando pelos sinos,
Rosa mais alta no mais alto galho:
De quem me valerei, se não me valho
De ti, que tens a chave dos destinos
Em que arderam meus sonhos cristalinos
Feitos cinzas que em pranto ao vento espalho?
Também te vi chorar… Também sofreste
A dor de verem secarem pela estrada
As fontes da esperança… E não cedeste!
Antes, pobre, despida e trespassada,
Soubeste dar à vida, em que morreste,
Tudo, — à vida, que nunca te deu nada!
Observe que há duas quadras e dois tercetos.
Soneto inglês
Da mesma forma que o soneto italiano, o soneto inglês apresenta quatorze versos. Porém, a diferença está no fato de que ele apresenta três quadras e um dístico final. A combinação rítmica pode ser feita seguindo duas organizações:
abab bcbc cdcd ee
Essa combinação é chamada de soneto spenseriano por ter sido iniciada por Edmund Spenser.
abab bcbc cdcd efef gg
Esse é o modelo conhecido como soneto shakespeariano ou soneto inglês.
Confira a seguir um exemplo de um soneto inglês de Manuel Bandeira.
Soneto Inglês No. 1
Quando a morte cerrar meus olhos duros A
– Duros de tantos vãos padecimentos, B
Que pensarão teus peitos imaturos A
Da minha dor de todos os momentos? B
Vejo-te agora alheia, e tão distante: C
Mais que distante – isenta. E bem prevejo, D
Desde já bem prevejo o exato instante C
Em que de outro será não teu desejo, D
Que o não terás, porém teu abandono, E
Tua nudez! Um dia hei de ir embora F
Adormecer no derradeiro sono. E
Um dia chorarás… Que importa? Chora. F
Então eu sentirei muito mais perto G
De mim feliz, teu coração incerto. G
Outros tipos de sonetos
Vale o adendo de que existe também o soneto monostrófico e o estrambólico. O primeiro consiste em um soneto em que os quatorze versos estão concentrados em uma estrofe única. O segundo tipo é um soneto em que há versos ou estrofes adicionais.
Qual o tipo de soneto mais usado atualmente?
O soneto inglês é a forma mais utilizada na composição de sonetos atualmente. Sua popularização se deu através do trabalho de William Shakespeare. Para se ter uma ideia, ele produziu 154 sonetos desse tipo.
Principais sonetistas brasileiros
Os principais sonetistas da literatura brasileira são: Gregório de Matos Guerra (1636-1696), Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), Cruz e Sousa (1861-1898), Olavo Bilac (1865-1818), Augusto dos Anjos (1884-1914) e Vinícius de Moraes (1913-1980).
A seguir um soneto de Vinícius de Moraes que se tornou bastante emblemático em nossa literatura:
Soneto da fidelidade
De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Principais sonetistas portugueses
Os nomes de maior destaque nos sonetos de Portugal são: Luís de Camões (1524-1580), Bocage (1765-1805), Antero de Quental (1842-1891) e Florbela Espanca (1894-1930).
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