Aula em vídeo – Baixo curso de uma bacia hidrográfica
Bacias Hidrográficas – Baixo Curso ou Curso Inferior
Neste compartimento específico de uma bacia hidrográfica o rio principal deixa de ser um agente erosivo e passa a ser quase que na totalidade um agente depositor de sedimentos.
A calha do rio principal da bacia hidrográfica – relação margem-fundo-margem – possui o chamado formato “V” quando verificada no alto curso de uma bacia hidrográfica, com as margens bem aproximadas e fundo estreito; águas límpidas, a princípio rasas e velozes. A calha desenvolve a formação em “U” quando no médio curso da bacia, com as margens, mais separadas e o fundo bastante ampliado.
A densidade de partículas no alto curso é menor, pois o rio está iniciando o seu trabalho erosivo neste compartimento, portanto, essas águas cristalinas e com baixas temperaturas descem pelas encostas da bacia modelando feições geomorfológicas (unidades de relevo), essas partículas se juntam às outras trazidas pelo alto curso das bacias tributárias (afluentes do rio principal), e finalmente no baixo curso estão em altas taxas, tornando as águas barrentas e de cor fortemente marcada pelos tipos de minerais resultantes do processo erosivo da bacia e concentração de outros materiais como os materiais orgânicos quando em seu estado natural.
A capacidade de vazão é baixa no baixo curso, caracterizando águas lamacentas, com velocidade menor aos compartimentos anteriores (alto e médio curso), e podem ser lançadas por quilômetros adentro do corpo d’água seguinte onde a bacia lança o término de seu trabalho, seja este corpo d’água um lago, uma laguna, um mar ou um oceano. São conhecidos os registros do rio Amazonas no Brasil atingirem lançamentos de águas doces e lama por mais de 360 quilômetros oceano Atlântico adentro. Os rios Nilo, no nordeste da África e Mekong na península da Indochina além do próprio rio Amazonas também apresentam esse fenômeno de elevadas descargas em suas “bocas” (foz), visíveis em fotos de satélite nos mares onde ocorrem suas desembocaduras.
Outra característica do baixo curso dos rios é que lá é demarcado o chamado Nível de Base da Bacia Hidrográfica, ou seja, a relação entre o final do processo erosivo da bacia – localizado na foz, baixo curso e o início do processo erosivo no alto curso – cabeceiras ou nascentes. O Nível de Base geralmente determina entre vários fatores a “idade” da bacia hidrográfica, sua capacidade de vazão de sedimentos, porcentagem de relevo esculpido e a ser esculpido, Escarpa de Recuo (Feições de Relevo Recuadas como Cachoeiras e Corredeiras), e velocidade das águas.
Essas informações são essenciais nos programas de uso das águas de uma bacia hidrográfica determinando localidades mais adequadas para projetos de irrigação, mineração e energia hidroelétrica.
Grande parte dos desastres ambientais ocorridos nesse tipo de empreendimento pode ter sua origem na escolha errônea do local de intervenção. Há vários casos de ruptura de barragem conhecidos pela execução do projeto não ter levado em conta a localidade correta da intervenção, a capacidade de vazão, a velocidade das águas, o comportamento das estações de estiagem e chuva. A tomada de decisão (Decision Making) de qual compartimento da bacia é o mais adequado para sofrer a intervenção com a menor possibilidade de impacto ambiental deve levar em conta esses fatores naturais, além dos fatores socioambientais (comunidades de fauna, flora e humanas envolvidas).
A barragem de Valo Grande é um caso conhecido de desastre por motivo da escolha do ponto de intervenção se dar no baixo curso da bacia do rio Ribeira de Iguape no segundo quartel do século XIX. O acúmulo de sedimentos típicos desse compartimento da bacia resultou em um tremendo desastre para o município de mesmo nome e grande parte do Lagamar, Sistema Lagunar de Iguape, Cananéia, Ilha Comprida e Ilha do Cardoso no litoral sul do estado de São Paulo.
Recentemente (05 de novembro de 2015), o caso do desastre no rio Doce, distrito de Mariana, Minas Gerais resultante da queda das barragens da mineradora Samarco, componente do grupo Vale do Rio Doce deve levar em conta essa variável no estudo das causas do acidente, pois as barragens para mineração de ferro na região de Bento Rodrigues se encontram no alto curso da bacia.
Concluindo, os estudos de hidrografia – incluindo o estudo de Bacias Hidrográficas – são essenciais para a preparação do vestibulando rumo aos exames, dado alto grau de importância de seus componentes, o valor das águas doces de superfície e o uso adequado dessas águas. O potencial estratégico dessas informações eleva a possibilidade de enriquecimento econômico a partir de exploração correta reduzindo o impacto ao máximo na forma de ações de previsão, gestão e combate a impactos ambientais e socioambientais. A probabilidade de acidentes, perdas e prejuízos caso esse arcabouço do conhecimento não tenha a sua importância reconhecida pelos governos, consórcios e empresas em seus programas e projetos de aproveitamento de águas é bastante elevada e, infelizmente, são verificadas inúmeras recorrências desses casos com fatalidades terríveis para os ecossistemas e comunidades humanas envolvidas, além de prejuízos enormes aos responsáveis pelos programas de intervenção.